quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sinônimos e Antônimos

Sou o riso, sou o choro.
a dúvida e a certeza.
a feiúra e a beleza.
Sou sábio, sou tolo.

Sou criança, sou velho.
afável e mordaz.
complexo e singelo.
sou covarde, sou audaz.

Sou vacilante e irredutível.
permanência e mudança.
desespero e espererança.
Sou firme, sou flexível.

Ordinário, sem igual.
certo ou errado.
futuro e passado.
Sou louco, sou normal.

Sou livre, sou escravo.
espírito e corpo.
infinito e limitado.
Sou reto, sou torto.

Sou santo, sou carnal.
conhecido anônimo.
sinônimo e antônimo.
Estou vivo, sou mortal.

Schliptz, 03/02/2010.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Choro pela vida

Choro pela vida. Pela minha, pela tua. Choro pela beleza. Pela alegria de se viver, de se conhecer, de se apaixonar.

Chorei certa vez pela beleza da música.
Epifania!
Não conseguia parar de ouvir jazz e soul.
Sozinho em casa, fui ouvindo Ray Charles cantar "You are my Sunshine" e a orquestra de Henry Mancini tocar "The Pink Panther Theme". Ouvi esta última uma, duas, três vezes...
Estava tão emocionado com o que sentia, que não conseguia parar de ouvir. Até que cai aos prantos, emocionado com tanta beleza. Mas eu queria mais. Como sentir mais música? Como ser transpassado por uma maior compreensão e gozo musical? Aí eu chorei mais um pouco, pois percebi que só havia uma forma de sentir mais gozo pela música do que eu estava sentindo. Eu teria que SER música. E orei a Deus por isso. Aos prantos. Extasiado, mas ainda incompleto.

Chorei certa vez pela beleza de tudo o que existe. Relembrei minha primeira epifania, e acrescentei outras belezas. Imaginei as coisas que Deus fez. A beleza das coisas inanimadas e também das animadas. Imaginei a beleza do homem e da mulher, de seus corpos e almas. E pensei em todas as belezas que o próprio homem foi habilitado por Deus a fazer. A música, a pintura, as esculturas. Mas o êxtase veio quando pensei na face de Deus criador. E me fiz a pergunta: Como seria a beleza do criador de toda a beleza. A beleza da presença de Deus me atingiu, e mais uma vez, caí aos prantos. Disso uma humilde poesia surgiu.

Anos depois chorei também pelo sofrimento dos homens. Havia passado por uma sabatina de verdade, no início de um relacionamento. A coisa foi absurda. Os inquisidores listaram todos os motivos possíveis para que o relacionamento terminasse ali mesmo. Aquilo foi cruel. Fatos íntimos de minha parceira foram expostos de forma pornográfica e inconsequente, sob o pretexto de serem mais motivos para que o relacionamento não existisse. O relacionamento realmente foi abalado e terminou, semanas depois. Ainda tarde, segundo os inquisidores. No dia seguinte à sabatina, ao entrar no banheiro para escovar os dentes, eis que ouço a água caindo na pia. O efeito que isso provocou foi descomunal. Caí, ali mesmo no chão, mal tendo tempo de trancar a porta. E chorei. Chorei copiosamente, aos soluços, que se sobrepunham uns aos outros. Nunca chorei tanto. Passei ali cerca de uma hora, chorando por mim, por ela, e pela dor que o homem é capaz de causar a si mesmo. Chorei pelas injustiças impunes, pelos atos inconsequentes dos homens, pela ganância maldita que por alguns centavos a mais de lucro, asssume o risco de matar e de fazer sofrer.

Chorei muito no inverno da minha vida. Há alguns anos atrás, perdi algo que não imaginava que pudesse ser perdido. O fôlego da vida saiu de dentro de mim. Foi passear e se esqueceu de voltar. Mas foi um choro bruto. Daquele que não alivia a dor. Poucas lágrimas. A queda foi escrita neste momento. Deste choro eu não lembro. Sei que está registrado em alguns textos sombrios. Mas trevas ocultam estes momentos e não os enxergo mais. E as trevas estiveram comigo, desde então.

Mas hoje o choro foi especial.
Hoje choro por tanta dor que carreguei comigo, em tantos anos. Choro mais uma vez, por tanta beleza que posso sentir e criar. Choro porque depois de 9 anos posso ser livre. O Schliptz voltou. Choro porque posso ser eu mesmo. Sou livre para criar e para me apaixonar novamente. Choro porque as trevas foram embora. Porque as amarras foram desfeitas. Choro porque sei quem sou. Choro pelo menino, choro pelo homem. Choro porque é primavera, mesmo sendo verão. Choro porque sei que sou amado e porque amo.

Hoje, choro, pois não sou mais O silêncio.

Schliptz, 1o de fevereiro de 2010.